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segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

PALAVRAS AO VENTO (final)

TRECHO FINAL do projeto de livro de poemas (que seria intitulado "PALAVRAS AO VENTO") contendo também músicas e até uns "rabiscos" com pretensão a desenhos.

WALDEMAR HENRIQUE - O CANTO DA AMAZÔNIA

I
Quem são êles na avenida ?
"QUEM SÃO ÊLES" somos nós,
brasileiros paraenses
elevando a nossa voz,
em defesa das Diretas,
da comida e do lazer,
da liberdade e justiça,
já cansados de sofrer.

I I
Eu sou o que sou,
não o que querem que eu seja...
Cantar, sorrir e amar
é o que a gente deseja.

I I I
O "Uirapuru" da Amazônia
que encantou a nossos pais
no tempo de nossos avós,
hoje já não canta mais.
No coração de todos
deixou bonita lembrança.
Cantou o amor e a paz,
deu a todos esperança.

I V
"Hei de seguir teus passos"...
no "Trem de Alagoas" eu vou.
"Negra Dengosa", "Cabocla Malvada",
"Violeiro da Estrada" eu sou !

V
Hoje, nada disso mais existe...
estamos todos mudos, tristes,
que saudades do Passado.
Felicidade, ouve agora a nossa voz,
abre as asas sobre nós
e vem viver ao nosso lado.

V I (refrão)
Com WALDEMAR HENRIQUE
esqueça um pouco da Vida.
Cante, sambe e brinque
com "Quem São Êles" na avenida !

É a "QUEM SÃO ÊLES" na avenida...

"NATO" AZEVEDO
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OBS.: samba-enrêdo criado em 29/maio/1984, em meus primeiros dias no Pará, para participar do IX Festival da famosa Escola de Samba, de Belém. Infelizmente, morando na época na Vigia (a 112 km da capital), contratempos diversos me impediram de fazê-lo.
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ENRÊDO DE UMA VIDA

I
Sou...
um pedacinho de saudade
colorindo a avenida
e relembrando a mocidade.
As alegrias desta vida
vivo (que felicidade !)
com minha Escola tão querida.

I I
Quem samba, fique...
quem não samba vá embora.
Olha, Waldemar Henrique,
é chegada a nossa hora
de cantar as suas glórias
neste torrão brasileiro.
Paraenses altaneiros
o teu nome hoje entoam.
Tuas canções como ecoam
em teu e nosso coração.
É com muita emoção
que nos juntamos, no presente,
pra cantar alegremente
tua brasileira história
e reavivar a memória
deste Amigo e nosso irmão.

I I I (refrão)
WALDEMAR,
enrique estes nossos dias
com a sua Poesia
e sua musicalidade.
Nesta hora de saudade
sinta nossa gratidão.
Paz e amor, saúde abessa
te desejamos toda a vida.
Vem brincar, que a hora é essa...
com a gente na avenida.

"NATO" AZEVEDO

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MINHA VIDA, MEU CAMINHO
(em 26/11/1988)

I
Nasci ouvindo-te sussurrar
em noite enluarada
que se espelhava (brilhando)
no teu corpo úmido.

Cresci a teu lado
com meus pais e avós,
irmãos e amigos.
Brincamos todos juntos,
vivemos todos muito,
alimentados por ti e
caminhando contigo
todas as horas, anos sem fim.

Em tempo de estio
minguamos ambos.
Vezes sem conta, na cheia,
transbordamos fartos
de douradas, pratiqueiras,
pacamuns, siris e até côcos.

I I
Um dia, a estradinha ensolarada
nos trouxe homens e máquinas,
progresso e mudança, cobiça e ambição.

Para o branco, tudo o que tínhamos...
para nós, um futuro sem nada !

Então, tudo acabou numa explosão:
na terra dos antepassados, ouro e morte;
nos rios de todos nós mercúrio e morte.

Hoje, sou apenas cruz tôsca
ao lado deste rio
que já foi (como eu) Vida !
"NATO" AZEVEDO

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PELEJA DE MANOEL FULGÊNCIO
CONTRA "TOTÓ" E "NATO" (início)



I
Belém é uma cidade caprichada,
verdejante e de clima bem ameno
onde o povo aprende desde pequeno
catar manga nas ruas, nas calçadas
e logo que termina a chuvarada
a gente está pingando de suor.
Não tem gripe e a roupa é uma só
seja novembro, março ou agôsto.
Só uma coisa é que nos causa desgôsto:
são os ônibus o que tem de pior !

I I
A gente entra é uma zoeira danada,
o toca-fita está a todo volume.
Não adianta protesto nem queixume
que o "motora" não baixa a zoada.
Coletivo sem banco, vidro, nada
e sem trôco prá dar pro passageiro.
O drama se repete o ano inteiro,
não ter ônibus de noite é certeza.
O Pará é o único (que tristeza !)
em todo o território brasileiro.

I I I
Fora isso a Cidade é uma beleza,
parece um pedacinho lá da França
co'os adultos brincando feito criança
e a cidade integrada à Natureza.
Mangueiras colossais, verde riqueza;
nas casas jambeiros, amendoeiras
e a Vida lá se vai na brincadeira.
Paraíso inspirando escritores,
magna Musa de plebeus, de doutores,
lar feliz de todos a vida inteira.

I V
No ano dezenove oitenta e oito
no jornal "A PROVÍNCIA DO PARÁ"
sucedeu o que agora vou contar,
briga feia mas não de trinta-e-oito
e onde "bolacha" não era biscoito.
(CONTINUA, etc)
"NATO" AZEVEDO

OBS: arremedo de cordel com o esdrúxulo título de A PELEJA DE "FULGÊNCIO BATISTA" COM "TOTÓ" E "NATO", de minha lavra, narrando a batalha literária com 2 poetas de renome em Belém, que o trovador ANTÔNIO JURACI SIQUEIRA transformou em um famoso livreto de cordel, lançado na Capital em meados de 1997/98.
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JARDIM DE TROVAS


Artista da Natureza,
Deus moldou com mãos de bamba
esse mar que é uma beleza,
com maré que canta e samba.

O mar com pobres parece
na virtude que Deus deu.
Tarda mas jamais esquece:
devolve o que não é seu.

Um arco-íris encantado
em mil tons de claro & escuro,
a foto é belo passado
presente em nosso futuro.

rimas feias (que importa !)
novas trovas vou compondo.
De pé quebrado, mão torta...
quero é continuar trovando !

Depois de tanto tormento
eu me descasei de fato.
O "poster" do casamento
virou foto 3 x 4 !

Mais um ano é passado...
um outro, novo, vem vindo
e o sonho náo-realizado
é esperança ressurgindo.

Ano Novo, vida nova...
um longo adeus vamos dando
ao velho, que se renova,
nas festas que vêm chegando.

Disse-me a esposa, atrevida:
-- "Eu vou de biquini à rua"!
Pensei que fosse vestida,
mas ela foi quase nua.

Deus nos deu tal esperança,
que nossas forças sustenta.
Nos virá sempre a bonança
depois da dura tormenta.

Quando o amor se desespera
na intensa dor da saudade
cada minuto de espera
parece uma eternidade.

Quando meu bem se despede
no triste aceno de um lenço,
junto ao adeus que sucede
eu sinto o beijo do vento.

A água que nos alimenta
e torna as vilas floridas
é a mesma que, na tormenta,
arrasa casas e vidas.

Todo jovem sem estudo
se parece com a estrada
que, à pretexto de ir a tudo,
às vezes não chega a nada.

Interrompida, fechada
ou livre e desimpedida,
perfeita ou esburacada...
bem a Estrada imita a Vida.

A Vida passa qual trem,
com variado itinerário,
andando num vai-e-vem
sempre no mesmo cenário.

A Vida é belo cenário
no qual cumprimos a sina
de rei, jogral, operário
e a Morte cerra a cortina.

Nação das mais desastradas
meu Brasil, num dito seco...
"seguiu por tantas estradas
mas acabou foi num bêco"!

Em tempos nada comuns
eis que a rua é, no fundo,
perdição e mal de alguns,
sustento de todo mundo.

Embora até não pareça
é qual coberta o salário
pois, quando cobre a cabeça,
descobre os pés do operário.

Com o coração na lua
e o pensamento disperso
olho o fim da minha rua
e vejo todo o Universo.

Presente de mágoas & dores
mas de passado tão belo,
nação de todas as cores...
meu Brasil verde-amarelo !

Jesus à Terra voltando
e, em guerra o mundo de lá,
sem hesitar e exultando
nasce em Belém... do Pará !

Sei que é verdade sentida
(parece até brincadeira):
de tanto "dançar" na vida
acabei na Capoeira.

Filho, acorda para a Vida,
do futuro siga o rumo.
Não use droga ou bebida,
não seja escravo do fumo.

Quando só na ampla casa
me vi chorando na mesa
na dor que o pranto extravasa...
foi saudade ou foi tristeza ?

Enquanto alguns têm no drama
triste orquestra de seu dia,
muita gente vive a chama
de uma eterna melodia.

Na Vida há caminhos loucos,
com belo ou triste cenário:
autoestrada para poucos,
prá maior parte calvário.

Tantos caminhos na Vida,
tão promissora a jornada...
indeciso na partida
me perdi na encruzilhada.

Resolvem tudo na roça:
febres, casórios,charadas...
são motivo até de troça
três santinhos camaradas.

-- "Filha, que enorme barriga,
o que sucede contigo"?!
-- "Mamãe, deve ser lombriga
ou inflamação do umbigo"!

Belo arauto é o carteiro
de mensagens de esperança,
aguardado mensageiro
da saudade e da lembrança.

Caminho é, em suma, a Vida
de fortuna, cruzes, dores;
alegre, dura ou sofrida
estrada de pedra e flores.

Na aula o mestre é só dilema
e tem problemas daí:
-- "Fessô, sei 'screvê porbema...
u pubrema é qui 'squici"!

Supera todos problemas,
dramas, infelicidade;
cruza a Vida e seus dilemas
conservando a dignidade.

Bem diz o velho ditado:
"não vá ao Mundo abraçando".
Quem a todos faz agrado
acaba desagradando.

Gaúcho que o vento embala
com ar de prazer profundo,
o campo é a tua sala
e as coxilhas são teu mundo.

Pior que o quiabo meloso
que nosso humor azeda
é o risinho pegajoso
dos que assistem nossa queda.

Só uns poucos, como o sol,
brilham em mil e um caminhos.
Muitos, qual triste farol,
passam a vida sozinhos.

Crianças se divertindo
na chuva, ao lado dos seus,
parecem anjos sorrindo
sendo banhados por Deus.

Quem faz troça da desgraça
do amigo esquece o ditado
de que fogo só tem graça
quando é na casa do lado.

-- "É tanta hoje a cobrança
(disse o velho, num suspiro)
que, tenho a desconfiança,
vão cobrar o ar que respiro"!

Se pedes a alguém dinheiro
tens, por justiça, entender
que o mandamento primeiro
é o dever de não dever.

Engoli "sapo" e "pepino"
mas o fiz inconformado,
que o que me deu o Destino
nunca foi do meu agrado.

Na escola a lição mais alta
é de sentido sublime:]
dever deveres é falta,
faltar ao dever é crime !

O Sol, que nos dá a vida,
às vezes por inclemência
destrói, arrasa, invalida,
impede a sobrevivência.

Dos absurdos dou risada
mas, às vezes, me confundo...
quem merece não ter nada
sonha ser dono do Mundo.

Na praia, de olhos tristonhos,
se o pensamento vagueia
sinto que a Vida e seus sonhos
são como água e areia.

As praias e os pobres têm
atitudes parecidas:
em constante vai-e-vem
vão levando suas vidas.

Brilha o sol e os raios seus
me dão imensa alegria
pois sei que, graças a Deus,
eu mereço mais um dia.

Chove muito, sem parar
e a chuva verdade encerra:
parece os céus a lavar
tod'os pecados da Terra.

O Mundo, Deus assim quiz,
faz-se sem nenhum favor
para alguns parque feliz
e, aos demais, circo de horror.

Esqueçamos desavenças,
êrros, ódios e deslizes.
Aplainemos diferenças...
sejamos, enfim, felizes.

No balanço da cadeira
a vovó, com alvas tranças,
recorda uma vida inteira
plena de belas lembranças.

Se acaso a Vida nos prostra
frente a seus mil e um perigos,
com surpresa ela nos mostra
os verdadeiros amigos.

Uma surpresa graúda
na vida de todos cabe:
quanto mais a gente estuda
vai vendo que menos sabe.

Ditado mais que perfeito,
que nos cabe muito bem:
nunca se está sdatisfeito
com a vida que se tem !

A mais sagrada verdade
na boca de quem não presta
vira, até sem má vontade,
mentira bem indigesta.

A mentira tem dois lados,
sei que isso ninguém desmente:
o dos que a ouvem calados
e o dos que a contam prá gente!
"NATO" AZEVEDO


(RESUMO da produção de 1995/98)

**********************************************

JARDIM DE TROVAS

Não preciso muito estudo
para um conselho à moçada:
não se meta em vale-tudo
se você não vale nada !

Velhas casa tão singelas
-- do Passado, monumento --
são as orquídeas mais belas
de uma selva de cimento.

Eis, na era da informática,
a conclusão que se tira:
é que a Verdade, na prática,
anda ao lado da mentira.

Se as dúvidas me consomem,
guardo certezas bem fundo:
pode haver vida sem o Homem,
mas sem Mulher não há Mundo.

Dos beijos, do abraço terno,
das juras e ramalhetes...
de nosso amor -- que era eterno --
só me sobraram bilhetes.

Levando a vida sozinha,
entre fantasmas e azias,
a velha senhora tinha
mania de ter manias.

Tempo é confuso dilema
que -- com surpresa imprevista --
passa veloz num cinema
e se arrasta no dentista.

Digo entre sério e risonho,
respondendo a seus apelos:
-- "A Vida é um belo sonho
com dois ou três pesadelos"!

Quantos retratos, memórias
guardadas nos camafeus
relatam mudas histórias
de amor, saudade e adeus.

A Vida sem fantasias
nessa loucura geral
que é o mundo de nossos dias
era hospício ou hospital.

No esporte, lazer ou lida,
em quase tudo, afinal,
há gente que faz da vida
um eterno carnaval.

Televisão (quem diria...)
que, em certos casos, atrasa,
põe mundos de fantasia
na sala de nossa casa.

De mil manias estava
tão cansado que, a meu ver,
ultimamente êle andava
com mania de morrer.

Se do antigo amor eu guardo
em um bilhete o perfume,
êle me recorda o fardo
que foi teu atroz ciúme.

Ao te dar o ramalhete,
me olhando sem emoção
despedaçaste o bilhete
e também meu coração.

Ter ambição não é pecar
mas, para muitos na vida,
fortuna é se ter um lar,
mulher, filhos e comida.

Se a fortuna bate à porta,
o que pensamos primeiro
é o que geralmente importa:
que seja muito dinheiro !

Vai o barco multicor...
navega pleno de graça,
tocando qual beija-flor
as terras por onde passa.

Ouça meu conselho drástico,
teus caros filhos desarma:
quem, hoje, "fere" com plástico,
amanhã mata com arma.

No sertão bravio o pobre,
perdida toda confiança
e sem água, pão nem cobre,
se sustenta de esperança.

Era tão pouca a fazenda
e tantos para enganar
que o ladino poz à venda
terra, em lotes, sob o mar.

Se oculto a dor, o desgosto,
o que o Tempo desmascara
é a máscara que, no rosto,
se faz às vezes de cara.

Fiz das máscaras escudo
a esconder-me dos fracassos.
Esfôrço inútil, contudo...
êles me têm em seus braços !

Palhaço desempregado,
sem máscara vou seguindo
tendo o mundo todo, ao lado,
da minha desgraça rindo.

Na Vida, no dia-a-dia,
digo com sinceridade
que os momentos de alegria
são a tal felicidade.

Rico, famoso, invejado,
o insuportável sujeito
tinha o defeito danado
de se achar sem um defeito.

A verdadeira virtude
passa ao largo da vaidade
e é reflexo da atitude
de servir com humildade.

Hoje, que o peso da idade
é o fardo mor de meus dias,
vejo que a felicidade
é recordar alegrias.

Diante do rosto bonito
eu digo e meu bem não crê
que, maior que o infinito,
é o meu amor por você.

Mais um milênio se finda
com trechos do mundo em guerra;
quantos se precisa ainda
para termos paz na Terra?

Diz na Fruteira o mascate
ao velho que lhe pede ôvo:
-- "Pro vovô só abacate...
ou, então, nascer de novo"!

Caso a canoa soçobre,
ir água abaixo não temo:
logo que as forças recobre
sigo montado no remo !

Quando a saudade exaspera
e o horizonte triste fito,
cada minuto de espera
até parece infinito.

Eu penso triste, indeciso,
que o infinito lhe daria
se ela me desse um sorriso
ou, pelo menos, "Bom Dia"!

Pobre Eva, nua e pagã
num paraíso perfeito,
depois de comer maçã
em tudo via defeito.

Aquele velho arquiteto
tem um pequeno defeito:
constrói janelas no teto
e portas com... parapeito.

Ondas que viram marola
são os sonhos de criança
que acalentamos na escola,
enquanto a idade avança.

O idoso que você vê
trêmulo, só desencanto,
foi jovem como você,
construiu, sonhou, fez tanto...

Range a carroça à distância
e o boi, num passo indolente,
me traz lebranças da infância,
faz do Passado... presente !

Na correnteza da Vida
-- cheia de sustos e medos --
multidões vão de vencida,
poucos são como rochedos.

De Marte a Vênus obscura,
no futuro o que nos resta
será imensa procura
por uma simples floresta.

São certamente os anseios
que constroem nossas vidas,
mesmo quando os devaneios
tornam-se ilusões perdidas.

O Poeta que canta a vida
com a luz da inspiração,
em sua trova sentida
traz muito do coração.

Na Antiguidade, o Hipócrates
com franqueza já dizia:
-- "Medicina... desde Sócrates
não admite hipocrisia"!

Deitado em rede de renda
penso com leve sorriso
que esta bonita fazenda
é a porta do Paraíso.

Fazendas, nunca te esqueças,
estranha emoção vão dando:
parecem quebra-cabeças
sem peça alguma faltando !

Humilde, pobre, roceiro,
sem rumo, sem pão nem norte
o migrante brasileiro
é um deserdado da sorte.

No Carnaval o menino
diz à mãe o que êle quer:
-- "Brincos, batom, salto fino...
fantasia de mulher"!

Se o João ía a passeio,
de vergonha êle morria
pois tudo nele é tão feio
que parece fantasia.

Nada ao acaso acontece
mas penso, em sonhos imerso,
que uma fazenda parece
a criação do Universo.

Desbravando imensidões,
quantas rudes caravelas
deram vida a mil nações,
trazendo o futuro nelas.

Se alguém fala em furacão
treme todo o vira-lata;
sob a cama do patrão
vê-se em espeto de prata.

Era tão magra a netinha
que o vovô, bem contrafeito,
viu no quarto da pestinha
um "esqueleto" no leito.

Ah, caravelas... gaivotas
que velejam na amplidão
buscando terras remotas,
com a fé no coração.

Sou um principe risonho
ou plebeu sem alegria:
apaga-se a luz do sonho
quando surge a luz do dia!

O que o escritor produz
ilumina a Humanidade
mais que as usinas de luz
de gigantesca cidade.

Quanta ruína, avidez
se vê em toda floresta
quando imensa estupidez
nos homens se manifesta.

Eis que vêm as caravelas
com emoção, força e cores;
avançadas sentinelas
de povos descobridores.

Com justos entre a canalha
findou-se o Mundo, caramba...
Descansado da gentalha
lá vai Deus cantando um samba.

Velando noites em claro
tem nos olhos meigo brilho:
ternura é presente raro
que toda mãe dá ao filho.

Sinto-me peixe no aquário...
sem norte ou sul vou sofrendo,
cumprindo humilde o fadário
de me imaginar vivendo !

TROVAR é rezar em versos,
colorir tempos insanos
onde os seres, tão dispersos,
nem parecem mais humanos.

As recordações de infância
-- qual pirilampo andarilho --
têm forma, luz e fragrância,
dando à Vida novo brilho.

Geme a velha, sussurrando,
enquanto a cama sacode:
-- "Ai, querido, desde quando
você tem esse... "bigode"?!

Este homem que a tantos deu
ajuda, casa e comida,
aplausos só recebeu
ao se despedir da Vida.

-- "Quero um bigode daquele"...
diz o guri com voz rouca.
-- "Vovô me disse que o dele
deixa a mulherada louca"!

Mais que os aplausos, quimera
enchendo os olhos de mel,
vale a crítica sincera
de um só amigo fiel.

Há homens que, desde cedo,
vivem em grande alvoroço:
só põem um anel no dedo
com a corda no pescoço.

Cobiça não nos convém,
fujamos sempre da intriga:
o que não se tem por bem,
por certo não vem com briga.

Nem o príncipe mais nobre,
com séquito e regimento,
tem a riqueza do pobre
que produz o seu sustento.

Chegamos a 2.000 anos !
Eis que o Mundo se renova...
mesmo entre mil desenganos
nos sobra o prazer da Trova.

"NATO" AZEVEDO
(OBS.: Seleção resumida das trovas
criadas no ano de 1999)

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